Um blog criado a 4 mãos, uma parceria entre irmãs, para comentarmos sobre os livros que lemos, e compartilhar opções de boa leitura.
Escolha um livro, pegue uma xícara de café e venham me desfolhar, sintam-se à vontade.

domingo, 22 de julho de 2012

A fuga de Freud

Título: A fuga de Freud
Autor: David cohen
Editora: Record
Gênero: Biografía / História
Páginas: 320
Ano: 2010












O livro aborda a vida de Freud em Viena, e sua fuga para Londres devido à invasão nazista.
Do 2° ao 4° capítulo o autor aborda a vida pessoal de Freud, sua família e amigos, fala da infância de Freud, dos pais, irmãos, do seu casamento e das cartas trocadas entre ambos. "A bibliotéca do congresso abriga 153 caixas de correspondências entre Freud e membros da família, amigos e pacientes, mas nem todo material pode ser lido. Vinte caixas só poderão ser abertas em 2020, 2050 ou 2057, oito estão fechadas em caráter perpétuo" O livro se torna meio chato e cansativo nas partes em que o autor dá muita enfase às cartas trocadas entre Freud e o sobrinho e só passa a ficar interessante à partir do capitulo 5.
    Após a tomada da Áustria, representantes nazistas passaram a tomar conta de bens e negócios de propriedade de judeus, os chamados Kommissar, apoderavam-se de bens, dinheiro e objetos de valor das familias judias pelo qual eram responsáveis, porém, no caso de Freud esse mesmo Kommissar foi figura essencial para que ele conseguisse deixar o país. Anton Sauerwald escondeu da Gestapo documentos que comprovavam contas bancarias de Freud no exterior e dívidas empresariais, ajudou a família à conseguir vistos para deixar o país,
conseguiu enviar para Freud, em Londres, seus objetos pessoais como obras de arte e antiguidades, ajudou à esconder livros de Freud na biblioteca nacional austríaca, livros que havia recebido ordem para destruir, pois as obras eram consideradas "lixo judeu" pelos nazistas. Mais tarde a filha de Freud teria dito que a segurança e a liberdade da familia foi garantida por Sauerwald e sem ele não teriam conseguido fugir, graças à ela ele foi absolvido no julgamento por crimes de guerra.
    O autor tb relata as últimas obras de Freud "Moises e o monoteísmo" e "Esboço de psicanálise" e fala da situação da psicanálise na Áustria e Alemanha no pós guerra.

"Não sinto qualquer necessidade de elogiar os homens famosos que conheci, quase todos são decepcionantes, tediosos, ou as duas coisas. Freud não era nenhuma delas, não tinha uma aura de fama, mas de grandeza. Ele me deu uma sensação que me foi dada por muito poucas pessoas que conheci, uma sensação de grande delicadeza, mas, por trás de gde delicadeza, uma grande força. Freud era extraordinariamente cortês. Ao contrário de muitos gênios, um homem extraordinariamente afável"
(Leonard Woof - Publicava traduções inglesas das obras de Freud desde 1924)


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Política: Para não ser idiota.


Título: Política: Para não ser idiota.
Autor: Cortella & Janine
Editora: 7 Mares
Gênero: Sociologia
Páginas: 112
Ano: 2010 (9°edição-2011)












A expressão idiótes no grego significa; aquele que só vive a vida privada e se recusa à política.
Mas quem vive apenas a sua vida privada se vivemos em sociedade? Política não é apenas o que se faz em Brasilia, política todos fazemos no dia-a-dia, nos direitos e deveres de cada cidadão.

Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro conversam sobre; direitos, deveres, liberdade, sociedade, democracia, ou seja, a política do cotidiano. O livro apresenta um debate inteligente e que nos leva à refletir sobre os temas citados, e que fazem parte do nosso cotidiano.


"Outro dia voltava de Campinas pala rodovia Bandeirantes, e na frente havia um caminhão baú com aqla frase obrigatória da empresa "como estou dirigindo?", más ele deu sequencia à frase, assim: Como estou dirigindo? Mal? Dane-se, o caminhão é meu"
"Alguns hoje entendem liberdade e direitos como uma propriedade ou objeto de consumo"
"Muita gente questiona a lei anti fumo em ambientes públicos, mas a lei não proíbe ninguém de fumar, proíbe que o individuo terceirize a sua fumaça, que o outro aspire seu fumo.


Conviver em sociedade significa que o seu direito termina onde começa o direito do outro, a liberdade não é soberana à ninguém.

"No Brasil, na déc de 70, havia uma operação policial frequente que era a revista de carros nas ruas. Eu já estava acostumado, mas um dia me dei conta de que fazia quase um ano que isso não acontecia. Não notei no primeiro dia, na primeira semana, no primeiro mês, mas me surpreendi ao notar que já fazia quase um ano. Devo isso ao fato que a liberdade é algo natural ao ser humano. É como a saúde, não notamos qdo estamos saudáveis, mas notamos a doença qdo ela nos acomete"

Creio (e os autores tb citam algo semelhante) que este seja o motivo pelo qual não damos real valor à nossa democracia, questionamos tanto sobre "que democracia é essa?" pq não vivemos durante a repressão. Só quem teve sua liberdade tomada é que entende a falta dela e valoriza hoje as conquistas dessa geração que lutou para que nós, que não estávamos presentes, pudéssemos hoje ter os direitos democráticos do qual usufruímos. Não damos valor nem à nossa atual democracia e nem àqles que colocaram suas vidas em risco por ela.
 

E hoje? Pq não continuamos lutando para melhorar a atual situação politica?
Os autores citam a atual questão da corrupção, não como algo que surgiu agora, mas sim que está apenas mais visível, e não só no Brasil, é um problema presente no mundo, e visto como algo sem solução. As pessoas precisam ter um objetivo pelo qual lutar, que acreditem que dê resultado, quando não alcançamos os resultados esperados desistimos de agir, além disso nem ao menos temos um objetivo determinado, um horizonte para alcançar, não sabemos exatamente pelo que lutar e como, ao contrário da geração da déc de 70 que tinham um inimigo determinado: a ditadura militar; e tinham um objetivo para alcançar; derrubá-la e reconquistar a liberdade de expressão.


Segundo Cortella, "Falta-nos hoje um horizonte-adversário, aqlo que podemos chamar de utopia no sentido em que Eduardo Galeano utiliza a ideia quando define: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos, jamais o alcançarei. Para que serve a utopia? Para que eu não deixe de caminhar"

Más na prática quando percebemos que o horizonte é inalcançável, desistimos de tentar nos aproximar.

"Uns anos atrás, um acadêmico português em visita ao Brasil, comentando o aniversário do descobrimento disse: "Vcs brasileiros têm que parar de culpar a colonização portuguesa, pq já fomos embora há quase 200 anos. Chega de falar mal do legado português: vcs já tiveram tempo de mudar tudo"
 

"A sociedade brasileira tem uma visão bastante limitada de responsabilidade. Queremos receber as benesses do Estado, sem pensar no que vamos dar, ou no qto elas custam. Deixamos a desejar no que se refere à noção de que respondemos pelos nossos atos. Enfim, meu filho vai ser, pelomenos em parte, quem eu contribuí p q ele fosse,; a sociedade vai ser aqla que eu ajudei a construir, ou contribuí para que piorasse, e assim por diante. (Janine Ribeiro)"

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Feliz Ano Velho


Título: Feliz ano velho
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Brasiliense
Gênero: Biografia
Páginas: 232
Ano: 1991 (76° edição)











14 de dezembro de 1979
17 horas
Sol em conjunção com netuno
E em oposição a Vênus

"Subi numa pedra e gritei:
— Aí, Gregor, vou descobrir o tesouro que você escondeu aqui embaixo, seu milionário disfarçado.
Pulei com a pose do Tio Patinhas, bati a cabeça no chão e foi aí que ouvi a melodia: biiiiiiin.
Estava debaixo d’água, não mexia os braços nem as pernas, somente via a água barrenta e ouvia:  biiiiiiin. Acabara toda a loucura, baixou o santo e me deu um estado total de lucidez: "Estou morrendo afogado." Mantive a calma, prendi a respiração, sabendo que ia precisar dela para boiar e agüentar até que alguém percebesse e me tirasse dali. "Calma, cara, tente pensar em alguma coisa." Lembrei que sempre tivera curiosidade em saber como eram os cinco segundos antes da morte, aqueles em que o bandido com vinte balas no corpo suspira...
— Sim, xerife, o $$ do banco está enterrado na montanha azul!
Por que o cara não manda todo mundo tomar no cu e morre em paz?
O fôlego tava acabando, "devem pensar que estou brincando".
Era estranho não estar mexendo nada, não sentia nenhuma dor e minha cabeça estava a mil por hora. "Como é que vai ser? Vou engolir muita água? Será que vai vir uma caveira com uma foice na mão?"
— Venha, bonecão, vamos fazer um passeio para o mundo do além, uuuaaaaaaa!!!
Será que vou pro céu? Acho que não, as últimas missas a que fui eram as de sétimo dia dos tios e avós. Depois, não sei se deus gosta de jovens que, vez em quando, dão uma bola, gostam de rock. Pelo menos não é isso o que os seus representantes na Terra demonstram. É, meu negócio vai ser com o diabo, vou ganhar chifrinhos, um rabinho em forma de flecha, e ficar peladinho, curtindo uma fogueira.
De repente estava respirando, alguém me virou.
— Você tá bem? — Era o professor Urtiga, que me carregava no colo. Sem saber o que dizer, pedi uma respiração boca a boca. Ele me olhou assustado e foi me levando pra margem fazendo a respiração. Já em chão firme, os bêbados e loucos falavam:
— Ei, Marcelo, levanta!
— Que é isso, Paiva?
— E aí, tinha muito ouro?
— Levanta, que ele fica bom logo, é só dar uma chacoalhada.
— Isso, me levanta, eu devo estar meio bêbado.
Me levantaram, mas não deu em nada. Todos ficaram impressionados, logo começaram a transar uma ida a um hospital qualquer: uma cabeça mágica arrumou uma tábua.
Deitaram-me e fomos até onde estavam os carros. Não havia dúvidas de que a Kombi era o melhor deles. Entraram Urtiga, Florência, Marcinha, Gregor e não sei mais quem. Urtiga foi cantando em castelhano, imaginei que fosse algum ritual maia, já que ele é mexicano. Gregor foi cutucando meu pé e chamou seu deus que até hoje não sei quem é, a Marcinha apelou pro Pai-Nosso e a Florência só chorava. O caminho tava demorando, mas eu nem me importava, tava gostoso ali, deitado, ouvindo o canto maia, com a certeza de que nada de grave havia acontecido. No hospital me dariam uma injeção qualquer e tudo bem. Urtiga começou a passar a mão na minha cabeça. Reparei que ele tava preocupado, olhei pra sua mão e vi que estava toda ensangüentada. Só poderia ser de algum corte da minha cabeça.
Chegando no pronto-socorro, percebi que o negócio era sério:
maca, oxigênio, enfermeiros, médicos, maca correndo, teto branco, todo mundo olhando, mesa de raio X.
— Sente aqui?
— Não.
— E aqui?
— Só acima do pescoço.
— Ih, meu deus...
Veio uma mulher: disse calmamente meu nome e pedi para avisar minha família em São Paulo.
— Ah! Avisa também o Dr. Miguel aqui em Campinas. O telefone dele é 29045.
Não sei como consegui lembrar o telefone do pai da minha ex-girl. Comecei a pensar nela, doce Lalá, faz quase dois anos e não teve outra paixão igual. Lembrei-me de que sempre a gente ia jantar fora, pedíamos vinho e ficávamos tão bêbados que todas as privadas de bares campineiros estavam registradas com meu vômito.
— Não, moça, não corte minha unha, é que eu toco violão e vou fazer uma gravação neste fim de semana.
Seria a primeira vez que ia entrar num estúdio profissional.
— Guarda esse colar, que ele é muito especial.
— Pô, meu cabelo não, é que eu sou muito vaidoso.
Me deixaram carequinha, carequinha. Apaguei."

    Assim começa o livro de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva morto pelos militares da ditadura, em um trecho do livro ele recorda o dia em que os militares invadiram sua casa e prenderam seu pai.
    Feliz Ano Velho é um best-seller dos anos 80, onde Marcelo fala sobre o "acidente" que o deixou tetraplégico. No livro ele descreve um ano de tratamento hospitalar, todo o período que passou na UTI, a fisioterapia, as visitas de amigos e familiares, relata lembranças de acontecimentos passados em sua vida, e apesar da situação trágica em que ele se encontrava, quase tudo é contado de maneira cômica e debochada. A linguagem é popular, cheia de gírias dos anos 80 e as situações são descritas com com boa dose de humor.
    Li qdo tinha 14 anos e gostei tanto que acabei lendo novamente alguns anos depois. Não foi atoa que se tornou um best-seller!